Entre os fenômenos mais conhecidos do espiritismo, a psicografia — ou escrita mediúnica — ocupa um lugar de destaque. Popularizada por grandes médiuns como Chico Xavier, a psicografia permite que os espíritos transmitam mensagens e ensinamentos por meio da escrita. Contudo, o que poucos sabem é que, nos primórdios das comunicações espirituais, a escrita não era feita diretamente pela mão do médium, como se conhece hoje, mas por meio de instrumentos intermediários, como cestas, pranchetas e lápis presos de modo engenhoso.
Essa forma inicial de escrita é chamada de psicografia indireta, e está amplamente explicada por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, uma das principais obras do espiritismo. Nela, Kardec descreve detalhadamente como os espíritos se utilizavam de objetos físicos para transmitir suas mensagens, e como esse método evoluiu até chegar à psicografia direta, feita com a mão do médium.
Neste texto, vamos compreender de forma didática o que é a psicografia indireta, como funcionavam as cestas e pranchetas, qual era o papel dos médiuns, e qual a importância desse fenômeno para o desenvolvimento do espiritismo.
O que é a psicografia indireta
A psicografia indireta foi uma das primeiras formas de comunicação escrita entre os espíritos e os encarnados. Nessa modalidade, o médium não escrevia com a própria mão, mas servia de intermediário energético para movimentar um objeto que continha o instrumento de escrita, geralmente um lápis.
Esses objetos eram conhecidos como cestas, mesinhas ou pranchetas, e funcionavam como uma espécie de ponte entre o plano espiritual e o material. O Livro dos Médiuns descreve que os espíritos agiam sobre o fluido do médium, dirigindo os movimentos do objeto de modo a formar letras, palavras e frases.
Embora rudimentar, esse método representou um avanço enorme nos estudos das manifestações mediúnicas, pois permitia obter mensagens mais longas e coerentes do que aquelas produzidas pelas pancadas (tipologia) ou pelos movimentos simples de objetos.
As cestas e pranchetas: instrumentos de comunicação
Allan Kardec explica que havia diferentes modelos de cestas e pranchetas usadas na psicografia indireta. Em geral, tratava-se de pequenos objetos de madeira, adaptados para segurar um lápis. O médium apoiava as mãos sobre o instrumento, e este se movia sobre o papel, escrevendo sob a influência dos espíritos.
O Livro dos Médiuns descreve dois tipos principais de instrumentos:
- Cesta-pião (ou cesta de bico) — Uma pequena cesta, leve e invertida, com um lápis preso em sua extremidade. O médium colocava as mãos sobre a borda, e a cesta deslizava sobre o papel, escrevendo.
- Prancheta com lápis — Uma tábua com um lápis fixado de forma móvel. Essa prancheta podia ter uma alça ou apoio para as mãos do médium.
Esses instrumentos funcionavam como extensões do sistema muscular do médium, transmitindo os impulsos que o espírito produzia por meio da ação fluídica. Em outras palavras, o espírito não movia diretamente o objeto, mas influenciava o médium, que, inconscientemente, movimentava as mãos, produzindo a escrita.
Como se processava a comunicação
Para que o fenômeno ocorresse, era necessário um ambiente tranquilo, com médiuns preparados e harmonizados. O espírito se aproximava do médium e, através de uma conexão fluídica, influenciava seus nervos e músculos, dirigindo o movimento das mãos sobre o instrumento.
O resultado era uma escrita que o médium muitas vezes não compreendia, pois sua mão se movia de maneira automática, sem controle consciente. Assim, as palavras e frases formadas provinham da vontade e do pensamento do espírito comunicante, e não do médium.
O Livro dos Médiuns observa que a psicografia indireta exigia paciência e prática. Os primeiros resultados costumavam ser desordenados, com letras ilegíveis ou frases incompletas. Com o tempo e o aprimoramento da sintonia entre espírito e médium, as comunicações se tornavam mais claras e precisas.
A evolução para a psicografia direta
Com o progresso dos estudos, os espíritos ensinaram que poderiam dispensar os instrumentos intermediários. Assim, surgiu a psicografia direta, na qual o médium escrevia com a própria mão, guiado pela influência espiritual. Essa nova modalidade mostrou-se mais prática e mais ágil, permitindo comunicações longas e contínuas.
Kardec explica que essa evolução se deu naturalmente, conforme os médiuns e os espíritos foram se adaptando melhor ao intercâmbio. A psicografia direta também facilitou o reconhecimento da autoria espiritual das mensagens, já que a caligrafia, a linguagem e o estilo variavam conforme o espírito comunicante.
Apesar disso, a psicografia indireta teve um papel fundamental: foi o primeiro passo que possibilitou aos pesquisadores observar de forma objetiva a influência espiritual sobre a matéria.
O papel dos médiuns
No fenômeno da psicografia indireta, o médium é um instrumento essencial. Mesmo que as cestas ou pranchetas parecessem mover-se sozinhas, o livro dos médiuns explica que elas dependiam integralmente da presença e da energia vital do médium.
Os espíritos utilizam o chamado fluido vital, que é a energia sutil presente em todos os seres vivos, para agir sobre o plano material. O médium serve como transmissor desse fluido, tornando possível a ação inteligente do espírito sobre o objeto.
Kardec classifica os médiuns de efeitos físicos como os mais aptos a esse tipo de fenômeno, pois possuem uma organização orgânica favorável à exteriorização de fluidos.
Entretanto, ele destaca que nem todos os médiuns de efeitos físicos conseguem bons resultados na psicografia indireta, já que é preciso também haver sintonia moral e afinidade fluídica com os espíritos comunicantes.
A importância da moralidade e da intenção
No espiritismo, o valor de uma comunicação não está na forma como ela ocorre, mas na intenção e no conteúdo da mensagem. Kardec adverte que, se os participantes buscarem apenas o fenômeno em si, sem elevação de propósito, podem atrair espíritos levianos, que produzem mensagens frívolas ou enganosas.
Por isso, O Livro dos Médiuns reforça que as experiências de psicografia, direta ou indireta, devem ter como objetivo o aprendizado, a caridade e o progresso espiritual. Quando guiadas por sentimentos nobres, essas comunicações se tornam verdadeiras lições de sabedoria e amor.
A contribuição para o espiritismo
A psicografia indireta representou uma etapa crucial para o desenvolvimento do espiritismo. Foi por meio dessas experiências que Allan Kardec e os primeiros pesquisadores puderam comprovar a intervenção dos espíritos sobre a matéria, de modo inteligente e organizado.
Esses fenômenos abriram caminho para o estudo sistemático das comunicações espirituais e ajudaram a construir a metodologia científica adotada por Kardec, baseada na observação, comparação e análise dos fatos.
Além disso, a psicografia permitiu que os espíritos transmitissem ensinamentos morais e filosóficos, que mais tarde comporiam as obras fundamentais da doutrina espírita, consolidando a fé raciocinada que distingue o espiritismo das crenças místicas ou supersticiosas.
Conclusão
A psicografia indireta, realizada com cestas e pranchetas, foi um marco na história das comunicações espirituais. Descrita detalhadamente no Livro dos Médiuns, ela demonstra como os espíritos, utilizando os fluidos vitais dos médiuns, puderam atuar sobre a matéria e expressar seu pensamento por meio da escrita.
Embora tenha sido posteriormente substituída pela psicografia direta, essa forma inicial de intercâmbio teve enorme valor experimental, permitindo aos primeiros estudiosos observar de maneira concreta a realidade do mundo espiritual.
Mais do que um fenômeno curioso, a psicografia indireta é um testemunho da continuidade da vida e da presença constante dos espíritos entre nós. Ela reafirma os princípios do espiritismo, que ensina que a verdadeira comunicação com o além deve servir sempre ao progresso moral, à instrução e à caridade.
Assim, ao estudarmos essas manifestações descritas por Kardec, compreendemos que O Livro dos Médiuns não é apenas um manual de fenômenos, mas um guia profundo para entender a interação entre os dois mundos e o papel dos médiuns na grande obra de iluminação espiritual da humanidade.
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